A questão da santidade, parte II (II Coríntios 6:15)
“E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?”(AEC/ACF)
“Que harmonia, entre Cristo e o maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (ARA)
Os termos ‘concórdia’ e ‘harmonia’ são traduzidos do original grego de um termo que pode significar também ‘acordo’, ‘compromisso’, ‘contrato’, ‘entendimento’, etc. Daí concórdia parecer mais adequado que harmonia (ARA). A excelente Bíblia de Jerusalém fica exatamente no meio das duas traduções: “Que acordo entre Cristo e Belial? Que relação entre o fiel e o incrédulo?”. Perece a mais equilibrada, sem prejuízo à primeira versão (ACF/AEC).
A questão vai além do apenas concordar com algo. O texto sugere acordo. Entendimento. De alguma forma, uma espécie de pacto entre as partes, onde alguém abre mão de alguma coisa para manter a harmonia com o outro lado. E observe que o texto não trata, nessa primeira observação, do fiel com o infiel, mas cita Cristo e Belial. A citação não é por acaso.
Um dos significados hebraicos do nome Belial é “rebelde”, e a tradição o aponta como um dos principais nomes na hierarquia das trevas, citado tanto no Antigo como no Novo Testamento. Segundo estudiosos, suas principais características eram a arrogância e a loucura, sendo ele, ainda conforme esses estudiosos, responsável por ter tornado Sodoma e Gomorra naquilo que lemos.
Ao opor Cristo a Belial, o texto opõe obediência (Cristo) a desobediência (Belial), vida voltada para Deus e sua obra a vida dissoluta e desregrada. Esta primeira questão não trata de uma pessoa, mas de um modo de vida. Situação sofrida por Ló em Sodoma, como se constata em II Pedro 2:4-8.
Ou seja, se não há concordância entre luz (Jesus) e as trevas (Belial), logo seus filhos não podem unir-se entre si. I Tessalonicenses 5:5 faz oposição a Deuteronômio 13:13.
Rebeldia e arrogância andam juntas. Uma pessoa humilde jamais será uma pessoa rebelde e vice-versa. E, na raiz de tudo isso, temos a vaidade. E quem é filho da luz não pode se acomodar com isso. Precisa entender que faz parte de um mundo diferente e aprender a conviver com essa realidade. Deve sempre existir um espírito de inconformidade, como bem orienta Paulo “Não vos conformeis com esse mundo...” (Romanos 12:2a). Conformar é tomar a forma. Quando concordamos com algo, sem perceber, acabamos tomando sua forma. Quando concordamos que é normal assistir novelas que fazem do adultério e da prostituição algo bom, divertido e normal, cedo ou tarde vamos achar bom, divertido e normal pecar.
E essa tem sido uma das principais armas do inimigo, desde o Éden, para nos tirar da luz e nos levar às trevas: fazer com que o mal pareça bom aos nossos olhos. Deus adverte essa prática em Isaías 5:20.
E então ele completa o raciocínio contrapondo fiel com infiel. Ou seja, o que crer contra o que não crer. Não diz que devamos rejeitá-lo, atacá-lo ou nos portarmos de forma agressiva. O que ele diz é que não podemos nos unir a ele ou ela partindo do princípio anterior de que fazemos partes de mundos diferentes. O crente e o incrédulo pertencem a mundos diferentes, realidades diferentes e falam línguas diferentes um do outro. Qualquer tentativa de união ou pacto será prejudicial à luz. Prejuízo normalmente provocado por um órgão em especial: Deuteronômio 11:13-17 e I Reis 11:1-11. Mas a questão vai além dos sentimentos.
A palavra original, ‘meris’, traduzida por parte ou união, tem significado ligado à porção, percentagem ou cota. Ou seja, além de prescrever como prejudicial a intimidade entre crente e descrente, o texto ainda expande seu uso para qualquer outro tipo de associação que venha a gerar uma partilha final, como, por exemplo, uma sociedade comercial. Toda ação associativa com os filhos das trevas dever ser evitada, sob pena de sérios prejuízos espirituais que certamente deixarão seqüelas duradouras.
Neto Curvina
Ministro do Evangelho 07/03/2013