Amor Integral 11/05/2014
A passagem em Marcos 12:28-30 sintetiza o entendimento de Deus em relação a amar. É como se isso – amar – só fosse realmente possível se estivesse impregnado em todas as dimensões humanas. E a verdade é que é isso mesmo, afinal, quem entende mais do assunto que o Pai (I João 4:8)?
A passagem expõe os diferentes – e inseparáveis – níveis de amor, a saber: coração, alma, entendimento e todas as forças. Trata-se de um versículo especial, onde Antigo e Novo Testamento são unidos e se apresentam como aquilo que são: complementares. Um não vive sem o outro. O primeiro autentica e legitima o segundo. O segundo explica e revela o primeiro. Mas o texto vai além.
Ao responder ao questionamento de um escriba sobre qual mandamento ele julgava ser o principal, Nosso Senhor Jesus Cristo não titubeou. Ele começa dizendo: “O principal de todos os mandamentos é...” (Marcos 12:29 / AEC). As versões ACF e BJ trazem a expressão “primeiro” ao invés de “principal”. A KJV mantém este entendimento. E então recita o “SHEMA ISRAEL” (Deuteronômio 6:4), a base de todo o credo judaico.
Os termos colocados (“principal” e “primeiro”), apontam, não para a Lei e seus 613 mandamentos, mesmo porque se olharmos para os dez mandamentos (Êxodo 20 e Deuteronômio 5), não veremos o “SHEMA ISRAEL”. Logo, podemos concluir que Jesus fala de algo muito especial. Sim, ele fala de algo primordial, de tal importância que, ao final do versículo 31 ele afirma que “Não há outro mandamento maior do que estes”. Em Mateus 22:40 diz ainda que “Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas”. Daí o cuidado com estas palavras.
Sem nos atermos ao segundo mandamento mais importante (amar ao próximo como a si mesmo), vejamos o que nos mostra aquele que é apontado como o ‘Príncipe dos Mandamentos’.
A palavra empregada no texto de Marcos é “ágape”. Trata-se de um amor em nível diferente. Enquanto temos o amor existente nos relacionamentos amorosos (Eros) e o amor fraternal entre os homens (Filos), o amor ágape é um amor espiritual, bem distinto dos outros conhecidos. Se observarmos a palavra usada em Deuteronômio 6:4, encontramos o termo “AHAVAH”, que aponta exatamente para isso: a mais profunda expressão de intimidade. Algo que vai além do físico, do natural, da carne. Assim também como o termo expõe o amor do ponto de vista judaico que, entre outras coisas, caracteriza-se em dar sem esperar nada em troca. E a isso damos o nome de amor incondicional, ou seja, subsiste em si mesmo, independente de influência externa. É o amor de Deus.
E aqui, quando questionado sobre o maior dos mandamentos, Jesus Cristo mostra que amar está acima de qualquer coisa, esta, inclusive, a razão de ele estar ali (João 3:16). E, na exposição do seu raciocínio, mostra de como esse amor se compõe, em quais dimensões humanas opera, como pode ser visto como verdadeiro.
“De todo o teu coração”. Fala de sentimentos. Sentir vem antes de pensar. É a reação inicial de todo ser vivo. Coração é o lugar onde guardamos os nossos tesouros (Mateus 6:21). Amar a Deus de todo o coração é fazer dele nosso maior tesouro. A pessoa com a qual mais nos preocupamos, a que mais tem nossa atenção, a que mais tememos desagradar, a que mais procuramos satisfazer. É a única forma que torna legítima a frase “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Cantares 6:3). É a única forma de buscá-lo e acha-lo (Jeremias 29:13).
“De toda a tua alma”. Fala de vida propriamente dita. Jesus fala em uma maravilhosa seqüência de acontecimentos. O que acontece no coração deve agora se concretizar em nosso dia-a-dia. Amar da boca para fora, com suspiros vazios e lágrimas de crocodilo é inútil. O amor, outrora gerado no coração, deve agora, de dentro para fora, mostrar sua face. Como ele diz em Marcos 7:6-7, que adoração com o coração distante não produz efeito algum. Se meu coração estiver cheio de Cristo, minha alma (vida) estará também. E então passarei a refletir sua imagem e viver não mais minha vida, mas a dele (Gálatas 2:20).
“De todo o teu entendimento”. Deus quer que o conheçamos. Ele não quer – nem deve – ser adorado por um mero ritual religioso. Ele quer que saibamos quem ele é. O que fez por nós. Porque estamos aqui. Para onde iremos, com ou sem ele. É tanto que ele não nos deu o coração de Cristo, mas sim sua mente (I Coríntios 2:16), exatamente o que nos difere de toda a criação. Conhecer a Deus é adorá-lo à sua maneira, é servi-lo como ele quer ser servido. Só assim o amaremos da forma correta, não agindo como extremistas, fanáticos ou relativistas.
“De todas as tuas forças”. Servir (e amar) a Deus dessa forma não é fácil. Há todo um sistema que conspira contra nós. O príncipe das potestades do ar e seu séqüito. As aflições do cotidiano, as tribulações diárias. Nossa própria fraqueza humana. Por isso ele diz “De todas as suas forças”, porque se empregarmos só parte delas, aí então é que não conseguiremos mesmo. Nada para Deus pela metade funciona. Orar pela metade. Adorar, santificar, buscar conhecimento, pregar, viver. Ele não é um Deus de obras incompletas. Ele vai até o fim. Como nós temos que ir também. Sem recuar (Hebreus 10:38).
Por amor a nós Jesus Cristo entregou-se com todas as suas forças. Poderia, quem sabe, ter escolhido outra forma de nos salvar. Mas quis dar o seu melhor, na maior demonstração de amor da história da humanidade.
O mínimo que podemos e devemos fazer é honrá-lo com a nossa vida e o nosso verdadeiro amor. Ele não merece nada menos do que isso.
Neto Curvina
Comunidade Shalom Filadélfia