Arrependimento
Mateus 4:17
“Desde então começo Jesus a pregar: Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus”.
Na primeira mensagem de Cristo registrada por Mateus, nosso Senhor já expõe a atitude central de qualquer um que deseje a salvação: arrependimento. Se olharmos um pouco antes nas Escrituras, veremos que o profeta João Batista levava exatamente a mesma mensagem (Mateus 3:1-2).
A palavra ‘arrependimento’ possui dois significados bem distintos.
No primeiro, utilizado no Antigo Testamento, ela indica ‘pesar o coração’. É quando uma ação resulta em algo que acaba causando transtorno, embora seja absolutamente necessária, como, por exemplo, a criação do homem. Quando a Bíblia diz que o Senhor se arrependeu em ter criado o homem (Gênesis 6:6), não está com isso afirmando que Deus cometeu um erro, mas que o homem o fez, e ao fazê-lo, trouxe pesar ao coração de Deus. É um termo que só pode ser aplicado ao Criador.
Em Números 23:19 encontramos outro significado do termo, onde está escrito “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa...”. Aqui fica claro que a palavra está ligada ao pecado e que, portanto, Deus nada tem a ver com ela. Arrependimento aqui é o reconhecimento sincero do erro cometido. O texto deixa claro que Deus não erra. Que é perfeito.
O texto principal (Mateus 4:17) acaba que por juntar um pouco do significado das duas situações. Seu significado na versão original em língua grega aponta para uma mudança de idéia que leva a uma mudança de direção. Ou seja, quando Cristo fala em arrependimento, ele também está falando em conversão. Em mudança de vida. Converter-se a Cristo literalmente significa mudar a direção nossa vida e apontá-la para a direção dele.
O termo utilizado por João Batista e Jesus quer dizer exatamente isso: converter é mudar de vida. Ao contrário do que muitos pensam, levantar a mão em um dia de culto, ir à frente para receber oração, comprar uma Bíblia e ser assíduo nos trabalhos da igreja não faz de ninguém um salvo, um eleito. Isso, na verdade, é só a primeira etapa, os primeiros passos. E ninguém chega a lugar nenhum só nos primeiros passos. Assim como também ninguém chega sem que dê esses passos. A vida que nós levamos no dia-a-dia, o modo como agimos, falamos, honramos nossa palavra e nossos compromissos, o modo como nos comportamos como filhos, pais, maridos e esposas, patrões e funcionários, cidadãos e, principalmente, membros do Corpo de Cristo, é que vai definir se fui selado ou não pelo Espírito Santo de Deus. É o que eu leio, o que assisto, o que eu ouço no fone de ouvido, em quem eu acredito, a quem dou ouvidos. É a minha vida fora da igreja. Ser santo na hora do culto é fácil.
E é aqui que entra a mensagem do Evangelho, pregada pelo profeta João Batista e depois continuada por nosso Senhor Jesus Cristo. Só consegue ter uma nova vida de verdade quem, de verdade, de arrepende da antiga. Só consegue se tornar verdadeiramente uma nova criatura, quem, verdadeiramente, se arrepende de tudo o que a velha era e representava. Quando em II Coríntios 5:17 Paulo diz “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo”, ele deixa claro que é impossível conciliar a vida que eu tinha antes de conhecer a verdade com a vida que quero ter com Cristo.
Hoje em dia as pessoas não são mais instruídas sobre conversão. Elas chegam às igrejas atrás de bênçãos. Elas vêm em busca de cura e prosperidade. Basicamente as necessidades de todo mundo.
Ali elas testemunham do poder de Deus e quase sempre vão embora sem que alguém as diga: “Você precisa se converter”. E isso não quer dizer “Você deve vir aqui todos os dias com sua Bíblia debaixo do braço”. Mas sim, que você deve tomar a decisão de mudar a direção de sua vida em direção a Cristo.
Onde estavam todas as pessoas que foram curadas por Jesus quando Pilatos perguntava se deveria soltar a ele ou a Barrabás? Onde estavam as milhares de pessoas que foram alimentadas por ele na multiplicação dos pães e peixes na hora em que pediram sua morte? É cruel constatar que muitas delas estavam ali pedindo que Pilatos soltasse um bandido altamente perigoso e mandasse para a cruz alguém que só lhes fez o bem. Sabe por quê? Porque embora tenham, pela misericórdia de Deus, recebido o milagre, não se converteram, não se arrependeram, não mudaram a rota de suas vidas. Não quiseram abrir mão de nada para seguir o Messias.
Os maiores perigos de uma conversão verdadeira são o orgulho e a vaidade. O primeiro impede-nos de reconhecer que somos pecadores falhos e transgressores. Não nos permite dar o braço a torcer. O segundo nos faz pensar que somos tão bons que não precisamos mudar.
O orgulhoso sabe que erra, que precisa reconhecer seu erro, mas não se arrepende. Como ele não vive para si – pessoas orgulhosas não vivem para si, mas sim em função do mundo que as cerca – e sim baseado naquilo que os outros vão dizer ou pensar dele, não demonstra qualquer tipo de arrependimento. Não quer parecer fraco.
O vaidoso não se arrepende porque na verdade nunca acha que está errado. Mesmo que os outros digam.
Não é à toa que Cristo diz nos sermão do monte que os pobres de espírito (não vaidosos) e os puros de coração (não orgulhosos) são os que estarão mais perto de Deus. A promessa para os primeiros é o reino dos céus (Mateus 5:3) e para os segundos é ver a Deus (Mateus 5:8). Sem arrependimento ninguém entrará no reino nem verá a Deus. Em Atos 3:19 Paulo diz “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor”.
Reconheçamos que a vida que levamos o tempo todo longe de Cristo era uma vida inútil, infrutífera, mentirosa, ilusória e irresponsável, que só nos trouxe descontentamento, discórdia, prejuízo e mal estar. Reconheçamos que a maioria das decisões que tomamos sem dar ouvidos a Cristo não nos levou a lugar algum. Reconheçamos que Jesus sempre quis o nosso melhor, nosso bem. E finalmente, reconheçamos que somos fracos, inclinados a todo tipo de transgressão, facilmente manipulados pelas trevas, capazes de nos comportarmos como aqueles que, mesmo tendo sido curados e alimentados, acabaram virando suas costas a quem mais lhes ajudou.
Só assim teremos condições de um arrependimento verdadeiro. De entender que a única chance que temos de viver é vivendo para Deus. Que o caminho, a verdade e a vida que procuramos, só encontramos nele.
Neto Curvina
16/11/2014
Se O Eterno assim o desejar