Artigo: O Cansaço de Moisés
O Cansaço de Moisés
Coitado de Moisés, e de todos os profetas do Antigo Testamento, não tinham direito a férias. Parece um comentário ridículo e até sem nexo. Mas é a verdade. Durante quarenta anos, pelo deserto, sem descanso, Moisés teve que liderar o povo. E aguentar o povo. Às vezes penso se Deus quer que tiremos férias. Falo dos líderes. Os tais… ‘ungidos’.
Afinal, Elias foi demitido nas férias. Aposentado compulsoriamente. O funcionário que lhe substituiu, um careca por nome Eliseu, deu conta do recado. Se mostrou até um funcionário melhor. A questão é que Deus mudou tanta coisa em um milênio. Talvez tenha mudado sobre nossas férias. Se Moisés, que era Moisés, depois de quarenta anos liderando de forma íntegra o povo, ficou de fora… Santa paciência. Mas que um dia acabou.
E tome porretada na rocha! Hoje não temos rocha para bater. Temos sacos de areia, esteiras, calçadas e um monte de coisas. A adrenalina de Moisés devia estar petrificando. Cuidar de gente é complicado. Para quem acha que isso aqui é fácil, devia tentar. Um pouco pai, irmão, filho, professor, psicólogo, orientador pedagógico, terapeuta, orador… Tudo isso é só um pouco do que é um verdadeiro ministro do evangelho. E ainda tem quem reclame dos que são impacientes. Tente lidar com um monte de pó que pensa que é importante.
Um monte de terra que ser o centro das atenções. Um monte de pecados que se acha a última corda que enforcou Judas. Não, Moisés. Acho que preciso de férias. Pastores são tão fracos quanto as ovelhas que cuidam. A diferença está no organograma. Quando Deus faz o organograma, distribui as ocupações. Alguém tem que pastorear esse negócio. E ele coloca lá seus escolhidos. Problema. Tem gente que não suporta os escolhidos. Coré e Datã foram assim. Os fariseus foram assim. Faraó foi assim… Sem problemas.
Deus sempre resolve isso. Não permite o estresse, a ansiedade, a ira. Mas, e quanto às férias? Parece engraçado o tema. Mas não é. Sem férias ministeriais a cinco anos. Acredito que tem quem acredite que não tenho o direito de me estressar. Que eu saiba, ainda não me peguei voando. Olhando através de paredes. Levantando trens. Pois é.
Pastores são normais. Não deveriam ser. Mas são. Só sendo anormal para não chutar o pau da barraca. Ou, no caso de Moisés, a rocha. Mas isso tudo é belo. A dificuldade é sinal da presença de Deus. Se alguém se diverte sendo pastor, deve se aposentar. Ou tentar outra profissão. Se alguém vê vantagens no cargo que ocupa em relação ao mundo. Deve entregar o púlpito e entrar para a política.
Se isso aqui fosse divertido e sem complicações, não seria ministério. Muito menos altar. Cruz então, nem pensar. Há quem diga que Jesus tirou três dias de férias. É patético, mas não deixa de ser engraçado. Onde ele poderia ter ido? Não. A Bíblia não diz nada sobre isso.
Segue a vida.
Neto Curvina