Avivamento Verdadeiro ou Modismo Emocional
A palavra avivamento volta e meia entra em cena. É o chavão preferido de muitos pregadores. O problema é que nove em dez vezes em que é citada, seu sentido está completamente desvirtuado daquilo que a Bíblia nos ensina. Para sermos mais claros, muitos confundem desorganização e distúrbios com avivamento. Mas antes de discorrermos sobre o assunto em si, duas colocações precisam ser feitas:
a) É Bíblico querer uma igreja avivada (Habacuque 3:2).
b) Avivamento não é sinal de fim dos tempos (Mateus 24:12)
c) O avivamento de uma igreja é o avivamento de seus membros.
Colocadas essas questões, não chega a ser um mistério reconhecer um verdadeiro avivamento, visto exclusivamente pela ótica do Evangelho. Vejamos então o que caracteriza essa igreja.
1. A Palavra de Deus é o centro da igreja avivada.
A Igreja de Cristo só pode ser chamada desta forma se ele, Cristo, for o centro, ou seja, o fundamento da igreja (I Coríntios 3:11). Observe que a maioria das religiões não cristãs normalmente possui uma figura fundamental que a orientam. Buda, Confúcio, Maomé e Alan Kardec são alguns exemplos. No caso da igreja cristã o fundamento é Cristo, representado e revelado por sua Palavra, que se confunde com ele (João 1:1). E ele, ou seja, sua Palavra, é o suficiente, o bastante (I Coríntios 4:6 e II Timóteo 3:16-17).
Existem organizações religiosas que se apresentam como cristãs, mas que não se satisfazem somente com as Escrituras, como, por exemplo, os mórmons, adventistas do sétimo dia, a igreja local e a igreja católica apostólica romana, que aceita em pé de igualdade com a Bíblia suas tradições, magistério e decretos papais, que é tido como infalível quando fala como chefe da igreja, o conhecido dogma da infalibilidade papal. Os testemunhas de Jeová não são cristãos.
2. O rebanho aceita a Palavra e se esforça para viver por ela.
Numa igreja avivada não se discute com a Bíblia. Ela é a única norma de fé e prática, capaz de explicar-se por si mesma, dependente tão somente da intervenção do Espírito Santo para revelá-la. Ela habita nas ovelhas de forma abundante porque é o único alimento servido (Colossenses 3:16) e é recebida tal qual é: perfeita, imutável e eterna. E como tal, não é contestada, emendada ou criticada. Ninguém pode falar em avivamento sem antes se submeter ao crivo das Escrituras, ainda que elas, em algum momento, incomodem. Membros assim são sempre problemáticos (I Timóteo 6:3-5).
3. Os dons espirituais são verdadeiramente espirituais.
Parece redundante, mas não é. Atualmente a confusão acerca dos dons espirituais está no centro da discussão sobre avivamento. Muitas vezes há uma falsificação dos dons. Em outros casos, uma distorção. Mas a Bíblia dá algumas características sobre a verdadeira atuação dos dons espirituais:
• Edificam o corpo, não o indivíduo em particular, o que é errado (I Coríntios 14:4).
• Não são para uso próprio (1 Coríntios 14:12)
• Podem e dever ser buscados com entendimento (I Coríntios 12:31 e 14:1).
• Estão todos sujeitos à Palavra de Deus (I Coríntios 14:37)
4. O culto é racional (Romanos 12:1-2)
Ao contrário do que muito se pensa e se prega, êxtases, gritos, desmaios, línguas sem significação alguma, desequilíbrios e outras confusões nada tem a ver com avivamento real. Tudo isso na verdade é uma distração, um desvio de foco. O culto a Deus, desde o Antigo Testamento até chegar ao Novo, repousa sobre quatro pilares bem definidos: Palavra de Deus (doutrina), Oração, Adoração e Louvor. E tudo isso deve estar direcionado para a glória de Deus, o que só pode ser feito corretamente se tivermos entendimento do que estamos fazendo (I Coríntios 14:15-16).
5. O poder de Deus é real e presente (Marcos 16:17-18)
Com o devido respeito aos reformados cessacionistas, mas não sequer uma passagem na Bíblia que apoie claramente a tese de que Deus não opere mais sinais sobrenaturais. É preciso lembrar a todos que o poder de Deus não tem prazo de validade, e que hoje é a igreja quem recebe de Deus autoridade para fazer manifesto esse poder (João 14:12).
6. Os quatro pilares da igreja primitiva são mantidos (Atos 2:42).
Atualmente pelo menos dois desses pilares parecem estar bem comprometidos. Os cuidados com o mundo, a dependência cada vez maior de tecnologia e o pastoreio pragmático (orientado por resultados materiais) são os principais vilões causadores da constante e contínua fragmentação da comunhão do rebanho. As igrejas deixaram de ser orientadas como famílias de Cristo e passaram a ser administradas como empresas, o que distorceu a essência do ministério (I Pedro 5:2-3), e, consequentemente, esfriou as relações, tanto em relação às ovelhas, como em relação a Deus.
7. A igreja realmente avivada não se amolda ao mundo. Nem é bem-vinda nele.
Sal e luz incomodam. Santidade incomoda. Dizer ‘não’ incomoda. A verdade dói. A igreja avivada não se deixa usar por qualquer outro propósito que não seja a glória de Deus. Não faz acordo por baixo dos panos em tempos de política em troca de instrumentos musicais ou material de construção. Não se transforma em loja de conveniências. Não patrocina mercenários com a justificativa de atrair quem quer que seja. Não se preocupa em agradar qualquer outro que não seja seu Senhor e Noivo. E sabe disso (Lucas 6:26).
Logo, avivamento bíblico e avivamento emotivo andam claramente em direções opostas, sendo que o primeiro é ditado pela Palavra de Deus e o segundo pelos modismos de última hora. Avivamento é viver a Bíblia em sua inteireza, com intensidade e dedicação. É conhecer e prosseguir em conhecer aquele que é adorado (Oseias 6:3). É servir como ele quer e não como nós queremos.
Neto Curvina