Minha Vida Fora da Igreja
“Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus” (I Coríntios 10:32).
A preocupação de Paulo era clara e objetiva. Os cristãos deveriam ter cuidado para não escandalizar seu próximo, fosse ele quem fosse. O modo como o apóstolo divide as esferas mostra isso. Ele cita primeiro o judeu, ou seja, o falso religioso, apegado à Lei de Moisés, mas com o coração endurecido. Em seguida, o grego, uma espécie de idólatra filosófico, cheios de deuses e de questionamentos. E, finalmente, ele se coloca a igreja de Deus. São três realidades. O fato de ele ter cuidado em separá-los deixa claro que se trata de três realidades, três visões bem diferentes. E, mesmo assim, devemos levá-los em conta quanto ao nosso procedimento.
Com isso Paulo desmonta a idéia que temos que ser crentes somente para Deus. Na verdade devemos ser crentes primeiro para Deus. Mas o devemos ser também, e obrigatoriamente, em relação ao mundo que nos cerca. E essa é uma das missões da igreja: brilhar na escuridão, como bem já dizia o Cristo: “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:16).
Fica claro, então, que há uma inseparável relação entre o modo como nos portamos e no que isto resulta em relação à visão que o mundo tem de Deus. Não poderia ser diferente. Deus é invisível (I Timóteo 1:17): “Ora, ao Rei eterno, imortal, invisível, ao único Deus, seja honra e glória para todo o sempre. Amém”. Ele se revelou no Antigo Testamento de várias formas. No Novo se revelou em Cristo Jesus. Na igreja se revela através da revelação de sua Palavra e da ação de seu Santo Espírito. Mas não pode ser visto (I Timóteo 6:16): “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível, a quem nenhum dos homens viu nem pode ver. (...)”.
Jesus se retirou por um tempo e deixou sua igreja. Sua noiva. Sua representante. Seu rebanho. Seu povo. A única instituição a quem deu o poder de falar em seu nome. De realizar obras em seu nome. De ministrar milagres em seu nome. Não há como separar Cristo de sua igreja e vice-versa. Um dos maiores equívocos de uma ovelha é imaginar que sua vida é uma, a da igreja é outra, e Cristo nada tem a ver com tudo isso. Errado. Completamente errado. Segundo ilustração deste mesmo Paulo a igreja é um corpo que tem como cabeça o Filho de Deus. É impossível que exista um corpo vivo sem cabeça, sem algo que determine seu rumo. Assim vive a igreja.
Daí a preocupação de Paulo em que tenhamos uma vida o mais distante possível de qualquer coisa que possa atingir a imagem do Deus vivo. Porque quando o nome de Deus é atacado, sua igreja também o é, indiscutivelmente. Esse é um dos sentimentos mais raros e ausentes dentro dos apriscos. O agir de forma que as pessoas, como disse Cristo, olhem para nós e glorifiquem a Deus. Independente de quem sejam, se judeus, gregos ou a própria igreja. E na Palavra de Deus há toda uma orientação que nos permite entender o que Deus quer que façamos. Vejamos os textos.
I Pedro 2:12-16
Aqui o apóstolo Pedro, inspirado, resume de forma concisa e específica, o padrão de comportamento que devemos adotar como servos de Deus. Observe cada versículo.
I Pedro 2:12. Correto (honesto) entre os gentios. Ser crente no meio de descrentes. Agir com justiça em um ambiente injusto. Ser correto quando o que se espera é a corrupção. Ser santo quando o mais fácil é se corromper. Isso vai inverter a atitude do mudo em relação a nós. Não que ele vá passar a gostar de nós, o que não é possível. Mas sua visão daquilo que nós cremos, ou seja, Deus e sua Palavra, lhe causará alguma reação. Em Provérbios 16:7 está escrito “Sendo os caminhos de um homem agradáveis ao Senhor, até seus inimigos faz que tenham paz com ele”. Ou seja, se vivo de modo que agrada a Deus, meus inimigos continuarão a ser meus inimigos, mas não me incomodarão. Um dos grandes exemplos disso é Daniel. Por seu procedimento correto viu Deus ser glorificado por um ímpio, no caso, Nabucodonosor.
I Pedro 2:13-14. Posicionamento correto em relação às autoridades. Entender que a grande autoridade é Deus e que nada acontece sem sua permissão. As autoridades do mundo estão onde estão por determinação dele. Sempre foi assim, desde os tempos do faraó, passando pelos reis assírios, persas, gregos e outros, e sempre será. E esse é um dos motivos que mais trazido escândalo para dentro da igreja de Deus: o posicionamento incorreto de suas lideranças em relação às autoridades constituídas, quer sejam elas seculares ou eclesiásticas. Ou seja, quando não estão envolvidos demais, mergulhados em negociatas obscuras, estão atacando ou denegrindo.
I Pedro 2:15. Nosso comportamento diante de Deus força o mundo a nos respeitar.Respeito esse que vem da presença de Deus em nossa vida. Um homem ou uma mulher que se porta de forma a agradar ao Senhor e não dando ao inimigo munição para que o acuse, certamente terá uma vida abençoada e em paz.
I Pedro 2:16. Não inverta o processo de liberdade. Muitos crentes tem um comportamento no mínimo irracional. Imagine alguém que passou anos preso em um cativeiro, nas piores condições possíveis, passando por todas as privações. Até que um dia é liberto. É normal, depois de, posto em liberdade, a pessoa voltar a comer a comida do cativeiro? Dormir como dormia? Vestir o que vestia?
Pois é. Mas existem crentes que, libertos do mundo, voltam a agir como se no mundo ainda estivessem. Agora observe o outro lado da questão. Imagine que você conhece alguém que passou anos preso sem ver a luz do dia. Você vai até a casa dessa pessoa no dia seguinte em que ela é posta em liberdade e a convida para sair, ao que ela responde que não quer, que prefere ficar trancada dentro do quarto. Mesmo depois de liberta, não quer ver a luz do dia. Você acharia normal essa reação? Não seria motivo de estranheza de sua parte?
Pois é assim que o mundo nos vê. Quando não sabemos o que fazer com nossa liberdade e voltamos ou continuamos a viver como vivíamos quando éramos cativos, isso causa escândalo. E é isso que tem destruído a vida de muitos crentes. O querer continuar uma vida que já não mais é a sua. Manter exatamente o mesmo comportamento dos tempos de cativeiro. Chegar em casa nos mesmo horários, andar com as mesmas companhias, expor o corpo da mesma forma, proferir as mesmas palavras, dançar como se ainda estivesse em uma festa mundana, tratar pai e mãe da mesma forma, proceder nos negócios do mesmo modo desonesto e oportunista, rejeitar toda e qualquer forma de autoridade, organização, decência e ordem. É aqui que o que era luz volta a ser trevas. E escandaliza até os gentios. Não é isso que temos visto por aí? Os gentios escandalizados com o que a igreja tem feito?
Neto Curvina