O homem que não ama a Deus: a mais ingrata das criaturas (Deuteronômio 32:6)
De todas as criaturas geradas por Deus, o homem foi o único que ele escolheu para se relacionar. Com alguns, em especial, ele levou esse relacionamento a níveis mais profundos, de tal modo escolheu alguns para habitar neles, aos quais chamou de eleitos. E, ao fazer nestes morada, os adotou como filhos e os fez co-herdeiros de Jesus Cristo, o Salvador.
Dentre os muitos pecados naturais que acompanham o homem desde seu nascimento, o versículo em Deuteronômio 32:6 chama a atenção para um em especial, que, se a início não parece tão perigoso quanto os pecados tidos como mais terríveis (ex. rebeldia, vaidade, idolatria e desobediência, etc.), no entanto, com o tempo, nos envolve de tal maneira que, quando damos conta o estrago em nossas personalidades já está feito. Ingratidão: é disso que o versículo fala.
Ingratidão é a incapacidade que alguém tem de reconhecer o bem que lhe fizeram, agindo de forma correspondente a isso. Em Neemias 9:21-26 vemos um breve relato de como um povo pode se comportar de forma tão insensível. Os dois versículos seguintes (27 e 28) mostram o ciclo que este comportamento formava. E o versículo 29 explica os erros e expõe os motivos que levaram os hebreus ao erro:
1. Soberba
A palavra hebraica “ZADHON”, que traduz soberba, significa, literalmente, “arrogância”, mas também pode apontar para “presunção” e “orgulho”. E todos esses termos apontam para um só caminho: a queda. É o sentimento que nos faz pensar que somos auto-suficientes, que não precisamos tanto assim de Deus e que somos capazes de caminhar com as próprias pernas. Esse sentimento começava a produzir ingratidão quando o povo se esquecia do caminho que havia trilhado para chegar onde havia chegado, e que foi lembrado por Neemias nos versículos 21-25. De como, em sua obediência, havia sido abençoado e tornado próspero, vencedor. É como se todo aquele sucesso, de repente, tivesse saído do nada ou sido conseguido com suas próprias forças.
É comum vermos isso todos os dias. Pessoas chegando às igrejas completamente destruídas, derrotadas, com seus casamentos em crise, enfermas, decepcionadas, traídas. Vemos como elas se entregam a Deus de uma forma intensa, sem faltar aos trabalhos, participando das atividades da igreja. Até que um dia, seus problemas começam a ser solucionados. A presença abençoadora de Deus modifica suas vidas. No começo elas até testemunham. “Deus me abençoou”, dizem, para toda a igreja. Como diz o final de Neemias 9:25 “…Comeram e se fartaram e engordaram, e viveram em delícias, pela tua grande bondade”. Para em seguida vermos essas mesmas pessoas, de repente, esquecendo de todo o caminho que tiveram que percorrer para restaurarem suas vidas e se reerguerem, e começaram a pensar que chegaram ali por sua própria capacidade e inteligência. É a presunção.
2. Não deram ouvidos aos seus mandamentos.
Não dar ouvidos quer dizer, na prática, não dar importância. Não ligar para algo, não levar a sério. É o primeiro sintoma da presunção, do orgulho. É se sentir seguro de si a tal ponto que já não é mais necessário ouvir quem quer que seja além de si mesmo. Mas tudo não passa de uma armadilha. E por quê? Fácil responder. De onde vem o orgulho e a soberba? Vem de uma situação privilegiada onde nos encontramos. Pode vir de um cargo importante ou mesmo de um saldo bancário bem gordo. Esses elementos alimentam nosso ego. Nos dão uma falsa sensação de poder. Está armado o laço. E para que ele seja disparado, falta só um detalhe: esquecermos de que só chegamos aonde chegamos porque Deus nos levou até ali.
E ao fazermos isso, não vemos mais necessidade de dar ouvidos aos seus mandamentos.e o que vem a seguir é o que chamamos de ‘efeito dominó’: um erro levando a outro erro. Não aceitamos mais os juízos do Senhor, viramos os ombros, endurecemos a cerviz e nos recusamos a ouvir. Tudo isso causado pelo quê? Pela incapacidade do homem em ser grato.
Motivos óbvios para ser grato a Deus eternamente.
1. Ele nos ressuscitou
Efésios 2:1 diz “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.”.
Estávamos fadados à morte, ao inferno, à condenação. Pecamos e destituídos ficamos da glória de Deus (Romanos 3:23). Mas ele olhou para nós. I João 4:20 diz uma das frases mais lindas da Escritura: “Ele nos amou primeiro”. Sem ele não teríamos vida. Não saberíamos o significado da palavra ‘esperança’. Foi ele quem, como diz Davi no Salmo 40:2, nos tirou de um lago horrível, de um charco de lodo. Se temos vida hoje, a temos graças a ele.
2. Ele fez tudo por nós sem que nós merecêssemos
Quem é capaz de fazer tudo, inclusive dar a própria vida, por alguém que só faz o mal, que vive afundado no pecado, afundado em todas as obras da carne? Acredite. Só Jesus Cristo seria e foi capaz de tal façanha. Ao que I Pedro 3:18 diz “Pois Cristo padeceu uma única vez, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus”. Esta é a essência da palavra graça, que, traduzido do grego “CHARIS”, quer dizer “Favor imerecido que Deus nos concede”. O único homem perfeito que caminhou sobre a terra, o Filho de Deus, não olhou para nossas fraquezas, iniqüidades, transgressões. Seu amor foi tão grande que chega a ser inexplicável. E foi esse amor que nos salvou, sem que merecêssemos sequer uma das gotas de sangue que foram derramadas no Calvário. Se conhecemos o amor, conhecemos graças a ele.
3. Ele não cobrou nada pelo que fez
Imagine que alguém peça para morrer em seu lugar sem que você saiba de nada. Imagine também, que essa pessoa que pediu pra morrer em seu lugar, e que você mal conhece, pagou suas dívidas antes de morrer. E, finalmente, essa pessoa que, sem você pedir nada ou conhecer, pela qual você nunca fez nada de bom, te deixou uma herança que nunca terá fim. E, o mais surpreendente de tudo isso: você não terá que pagar nada para ter acesso a tudo isso. Parece loucura? Parece. E é, pelo menos para alguns. I Coríntios 1:18 afirma que “A palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”.
O que mais é preciso dizer para que prevenir a humanidade do vírus da ingratidão? Será que teremos de passar sempre pelos mesmos vales por culpa de nossa própria arrogância? Será que temos de ser novamente entregues nas mãos de nossos inimigos e voltarmos a ser oprimidos por que somos tão incapazes de reconhecer o bem que nos fizeram?
Lembremos do que diz o salmista Davi no Salmo 103:1-2 (Salmo de gratidão por excelência)…
Neto Curvina