O Pentecostalismo não se sustenta biblicamente

Reflexões Acerca do Movimento Pentecostal

 

Alguns artigos que temos escrito e publica acerca do movimento pentecostal têm causado certo mal estar entre seus seguidores e expoentes. Tivemos muitas respostas inflamadas, emocionadas, boicotes pessoais e outras coisas semelhantes, que pareceram tornar uma simples discussão teológica em pessoal.

 

Essa discussão é interessante porque dá a quem a observa o privilégio se estudar os dois lados da questão, entretanto, como em alguns casos, a coisa saiu do campo teológico e virou uma questão pessoal, resolvemos não mais expor estudos. Desta vez, e pela primeira vez, vamos lançar um desafio teológico aos “estudiosos” pentecostais. Vamos colocar algumas questões bastante claras acerca do que a Bíblia fala sobre batismo com o Espírito Santo. Todas elas fundamentadas com no mínimo três versículos, contextualizados. Se alguém quiser comentar ou responder o faça, mas o faça com a mesma fundamentação bíblica, sem textos isolados, descontextualizados e, principalmente, com o argumento dúbio e nebuloso da “experiência” sobrenatural, os famosos “eu vi”, “eu senti”, “ouvi falar”, “conheço alguém que passou por isso” e “aprendi assim”.

 

Questiona-se com Bíblia. Responde-se com Bíblia. De Gênesis a Apocalipse.  Serão pontos isolados, no total de quatro, que estão à disposição para serem completamente refutados. Mas lembrem-se: á luz das Escrituras.

 

v     1º ponto.

 

João Batista afirmou claramente que Jesus Cristo batizaria com o Espírito Santo. Os textos estão em Mateus 3:11; Marcos 1:8; Lucas 3:16. O próprio Jesus afirmou que os apóstolos seriam batizados com o Espírito Santo (Atos 1:5). Ou seja, em todas as citações está caracterizada uma ação direta de Jesus Cristo. Ele batizará, ele realizará a obra, ele cumprirá o que prometeu no tempo em que desejar e da forma que melhor lhe convier. Parece não haver nenhuma dúvida a respeito disso.

Em nenhum momento nem João Batista e nem Jesus Cristo afirmam ou dão a entender que esta ação depende da vontade de quem quer que seja para se cumprir, além é claro, do próprio Messias. Logo fica óbvio que essa mesma ação não depende de nada que esteja condicionado ao pecador, e nem poderia, pois se trata da soberania total e inquestionável de Deus.

É como a salvação: independe de mim. Jesus salva por um ato soberano (Romanos 9:19) e insere a pessoa do Espírito Santo nesse contexto exatamente da mesma forma (Tito 3:5-6), mediante sua ação redentora.

Por isso não existe na Bíblia um passagem sequer que oriente a quem quer que seja a buscar o batismo com Espírito Santo. Observe as orientações bíblicas  para o que o crente deve buscar: Os dons espirituais (no plural, ou seja, mais de um) I Coríntios 12:31e 14:1; Revestimento, Gálatas 3:27; Enchimento, Efésios 5:18. Onde está o versículo dizendo “Buscai o batismo com o Espírito Santo”?

 

Alguns incautos argumentarão que a frase em Lucas 24:49 como sendo o termo “revestimento” aplicado a Batismo com o Espírito Santo. Muito bem, era sim, só que aquela promessa era específica para os apóstolos. E a prova disso é que no dia de pentecostes em Jerusalém somente eles foram cheios do Espírito Santo e saíram a pregar o evangelho da salvação, ou seja, a promessa se cumpriu integralmente. Se mais alguém fora do cenáculo foi cheio do Espírito naquele dia, essa pessoa vai ter que aparecer na Bíblia. A prova que naquele dia, em Jerusalém, mas ninguém foi batizado, cheio ou revestido de poder, encontra-se em Atos 2:38. E aí mais uma vez se percebe o absurdo da falta de exegese pentecostal. Vamos analisar o texto em Atos 2:38-39.

 

‘38: “E disse-lhes Pedro: arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.”.

 ‘39: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe;a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.”.

 

Observe os textos grifados com atenção. De que batismo fala Pedro? Do batismo em águas, uma ordenança de Cristo (Marcos 16:16). Indiscutível. Na seqüência ele cita “dom do Espírito Santo”. É o batismo pentecostal? Não poderia, visto que ninguém mais falou línguas entre aqueles quase três mil que foram batizados. Essa informação não consta da Escritura, o que reafirma o que foi falado anteriormente que naquele momento específico (Jerusalém) o revestimento era para os apóstolos. O dom era a salvação, vida eterna. Não um dos dons listados por Paulo em I Coríntios 12. Afirmar o contrário pode levar a uma heresia.

Aí vem a promessa. Ele está falando da profecia de Joel, que ele mesmo havia acabado de pregar (Atos 2:16-21), o que confirma, no último versículo, que tratava-se da porta aberta para o contato com Deus para outras nações (“toda carne”) e não mais exclusivamente para os judeus. Por isso a frase “a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar”, independente de  tribo, língua, povo ou nação (Apocalipse 5:9). Esse é o mistério da profecia de Joel: o Espírito não era mais só para Israel, mas para tantos quantos Deus chamar. A profecia não diz que todo mundo seria obrigado a falar em línguas. Por isso em nenhum lugar da Escritura, fora do livro de Atos, aparece o termo “batismo com o Espírito Santo”, relacionado com os acontecimentos que se sucederam naquele período de cumprimento da profecia de Jesus em Atos 1:8 na seguinte ordem: Jerusalém, Judéia, Samaria e confins da terra. Essa profecia cumpriu-se INTEGRALMENTE           no livro de Atos, e todas as vezes que o Espírito manifestava-se como no dia de pentecostes, havia um discípulo que havia estado lá por perto. E para quê? Para fazer exatamente o que disse Jesus: testemunhar (Atos 10:15).

 

Resumindo este primeiro ponto de reflexão com a questão:

 

Ø      Onde está a orientação clara de que o crente deve buscar o batismo com e Espírito Santo, já que para os pentecostais ele é uma obra separada do ato se salvação?

 

Muito bem. Passemos a questões doutrinárias práticas. Todos sabem que a pedra doutrinária fundamental do movimento pentecostal é a associação indiscutível entre batismo com Espírito Santo e o falar em línguas. Foi assim no nascimento, ainda nos EUA, seguindo para a célebre Rua Asuza. Foi assim no Brasil e continua sendo até hoje. Prova disso são as apostilas e livros de estudos pentecostais, quer em seminários, faculdades ou escolas bíblicas, que sempre se dirigem para o falar em línguas como EVIDÊNCIA INICIAL do batismo com o Espírito Santo.

Mesmo que recentemente alguns teólogos pentecostais venham tentando colocar panos quentes na coisa e dizer que a história não é bem assim, na prática o que se vê é isso mesmo, ou seja, o critério em uma igreja pentecostal nestes séculos XX e XXI para deduzir se alguém é batizado com o Espírito Santo é saber se essa pessoa falou em línguas. Se alguém aparecer dizendo o contrário, de três, uma: ou é excepcionalmente ingênuo, ou é completamente alienado, ou é um hipócrita de primeira. Estive lá e sei do que estou falando.

 

Mas em que se baseiam os pentecostais para fazer tais afirmações?  Eis os textos:

 

Marcos 16:17 “E estes sinais hão de seguir os que crêem: Em meu nome expulsarão demônios;falarão novas línguas; (...)”  

 

Vamos analisar esse texto. Em primeiro lugar, o contexto. Observe o versículo imediatamente acima: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer, será condenado.” (Marcos 16:15). Observe que há uma inteira coerência no texto bíblico. Neste versículo fala de quem crer ou não. No versículo seguinte dos sinais que seguirão a quem? Isso mesmo, os que creram, no versículo anterior e FORAM BATIZADOS. De que batismo se fala? Lógico que sabemos: o em águas.

 

Observe mais atentamente o texto, e veja que o termo “novas línguas” estão em uma espécie de “pacote espiritual”. Não aparece como única prerrogativa ou mesmo um sinal especial, evidência ou diferentes dos outros. Faz parte de um conjunto. Não dá, à luz do texto, para afirmar o contrário. E há um ponto importantíssimo que não pode deixar de ser ressaltado: há milhares de crentes que já dormem no Senhor que nunca em sua vida cristã abençoada expulsaram um demônio ou oraram por um enfermo que foi curado pelo poder de Deus. E isso absolutamente não quer dizer que eles sejam menos crentes do que quem faz tais coisas, e sabem por quê? Porque esse poder não pertence ao crente, mas sim a Deus, que pela sua misericórdia usa a quem quer para lhes fazer manifestar. Logo os sinais seguirão os que crêem, mas quando Deus assim quiser manifestá-los. Senão não adianta orar, espernear e bater o pé. É Deus quem vai operar de acordo com sua soberana vontade. Por isso nem todos que estão enfermos e recebem oração são curados. Tudo depende da vontade de Deus.

 

Se quisermos ser um pouco razoáveis e traçar um contexto mais amplo, poderíamos até aceitar que Jesus estava falando nos dons do Espírito Santo, visto que nos versículos citados há a descrição de alguns deles: expulsar demônios, falar novas línguas, pegar em serpentes, aqui representando dom da operação de milagres (ou maravilhas) e a cura de enfermos. Tudo é claro, em nome de Jesus. Seria mais coerente aceitar que Jesus realmente falava na manifestação de dons espirituais. A Bíblia não afirma isso claramente, mas uma coisa é certa, ele só falou de um batismo. Como já vimos no estudo anterior, a promessa do batismo com o Espírito Santo em Atos 1:5, foi cumprida integralmente nos apóstolos que estavam no cenáculo e no contexto do livro de Atos. Visto porque o termo não apareceu mais nas Escrituras.

 

Logo, usar o texto final de Marcos para justificar o movimento pentecostal como é praticado hoje, está completamente sem fundamentação.  O que sobrou?

Sobraram as passagens no Livro de Atos, onde o Espírito é derramado em algumas situações e em algumas delas é relatado que os presentes falaram em línguas. Vejamos.

 

Em primeiro lugar, em todas as ocasiões em que o Espírito foi derramado no livro de Atos, havia um apóstolo presente. E por quê? Já dissemos no estudo anterior: para testemunhar. Observe as palavras em Atos 10:47 e entenda. Por isso não há mais nenhum caso a respeito fora do livro de Atos e, mesmo dentro de livro de Atos não há uma especificação direta e objetiva sobre o assunto.

 

Finalmente encerramos esta introdução teológica com as passagens mais mal interpretadas de I Coríntios.

 

I Coríntios 13:1 “Ainda que eu falasse  as línguas dos homens e dos anjos...”

Observe o termo grifado. Agora observe essa frase:

 

“Ainda que estivessem no meio dela estes três homens: Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor dos Exércitos.” (Ezequiel 14:14)

Os homens estavam no meio da cidade? Não, não estavam? Deus usou uma hipótese para demonstrar o que queria dizer. Analisemos outro caso parecido:

 

“Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento, ainda que as ovelhas sejam exterminadas, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.” (Habacuque 3:17-18). Nesse caso, um pouco diferente, vemos que a figueira poderia vir, sim, a não florescer, mas mesmo assim ainda se tratava de uma hipótese.

 

Não há um relato bíblico sequer fora dessa hipotética situação exposta por Paulo acerca de línguas de anjos, nem no Antigo Testamento nem Novo. E por que não há? Porque são os anjos que devem falar a nossa língua e não o contrário. Fundamenta-se biblicamente essa afirmação em Hebreus 1:14. E encerra-se a questão confrontando todo e qualquer texto bíblico onde eles façam alguma aparição. E são muitos. Paulo não falava língua de anjos. Afirmar o contrário requer uma fundamentação bíblica sólida, além de uma construção gramatical hipotética de I Coríntios 13:1.

 

I Coríntios 14:2 “Pois o que fala em língua não fala aos homens, senão a Deus. Com efeito, ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”. É interessante como do capítulo 14 de I Coríntios praticamente só esse versículo é analisado. O contexto do capítulo todo é completamente esquecido, assim como o contexto da carta. O que estava acontecendo em Corinto? Os dons estavam sendo desvirtuados. Em sua essência, prática e finalidade. Em essência porque não correspondia mais ao que havia acontecido no contexto do Livro de Atos. Na prática, porque estava causando confusão e distúrbio, a ponto de Paulo se ocupar de escrever capítulos inteiros para explicá-los. Em sua finalidade porque não estavam edificando o Corpo de Cristo.  

 

Façamos uma exegese correta do texto. “Pois o que fala em língua...”. De que língua Paulo está falando? Ele está falando da língua que estava sendo falada em Corinto. Uma “língua estranha” e não “outra língua” ou “nova língua”. A diferença é contextual e sutil, porém, existe. Quando se diz língua estranha, não necessariamente se quer dizer língua inteligível. Muitas vezes quando se assiste a um filme que não se entende se diz “filme estranho” ou quando se observa um quadro surreal, a atitude é a mesma. Por outro lado, pode-se argumentar que estranho é algo que não se conheça. Alguém diz “há um estranho lá fora”. Há alguém lá fora, mas não sei quem é. E nesse caso língua estranha se encontra com outra língua ou nova língua.

 

No caso de Corinto, esta última hipótese está descartada. A Bíblia deixa claro que a língua falada em Corinto era incompreensível. Por isso Paulo diz, no mesmo versículo “Com efeito, ninguém o entende...”. Então se percebe que não há uma repetição do pentecostes, porque lá foi entendido. Os das outras nações receberam a pregação de Pedro e se converteram. Se não tivesse entendido nada, como isso se daria, visto que a “fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus”? Essa é uma pergunta que nenhum pentecostal consegue responder.

 

Mas persiste a argumentação de que o que não é entendido é aceitável, visto que o texto diz: “Não fala aos homens, senão a Deus...”. Muito bem. Faltou entender só um detalhe. Uma coisa é falar “a” alguém. Outra, bem diferente, é falar “com” alguém. Lembremos-nos que no Antigo Testamento o próprio Deus dava orientações a profetas como “Profetiza aos montes!” e coisa parecida. Era uma ação unilateral. Os montes não responderiam ao profeta nem o entenderiam. Tudo era um ato profético e simbólico da parte do Senhor dos Exércitos. Daí a conclusão do apóstolo: “Com efeito, ninguém o entende...”.

“E em espírito fala mistérios.” Os pentecostais desvirtuaram completamente esse versículo. Eles hoje dizem que as pessoas falam “Em mistérios”. Ora, ninguém fala em ‘mistério’. Não existe esse termo na Bíblia, nem coisa parecida. Nesse caso, ‘mistério’ pode ser facilmente entendido à luz do próprio texto. Vejamos. ‘ninguém o entende’. Se aceitarmos que o texto de Paulo é inspirado pelo Espírito Santo – e é com certeza – devemos aceitar o termo ‘ninguém’ em sua totalidade. ‘não fala aos homens, senão a Deus’. Óbvio, como falar aos homens dessa forma inteligível? Então com quem ele fala? Só pode ser com Deus, embora sem saber o que está dizendo. Por isso edifica-se a si mesmo e a mais ninguém. E os dons não servem para isso. Pedro edificou a quem no dia de pentecostes? Ele ou a igreja? Por isso não há, na cabeça de alguém sincero nas Escrituras a menor possibilidade de comparar o que aconteceu no dia de pentecostes com o que acontece hoje nas igrejas pentecostais de uma forma geral: as línguas sem significação nenhuma. A ação não é contemplada nas Escrituras e nem a experiência é orientada a ser buscada. E muito menos isso recebe o nome de batismo com Espírito Santo. 

 

 

 

Pr Neto Curvina