O que o mundo pensa da Igreja. E Eu também.

O que o mundo pensa da igreja de Cristo. E como muitas vezes eu penso como o mundo.

 

  • Na igreja todos deveriam se dar bem, mas não é assim que acontece. O que vejo são brigas, disputas por poder, falsidade e desunião.

 

Algumas das piores pessoas e situações que conheci na minha vida foram dentro de igrejas evangélicas. Os maiores covardes, os melhores mentirosos, os mais corruptos, as piores manifestações de ingratidão e traição, inveja e vaidade. Porém nunca, nem por um só momento, me passou pela cabeça a possibilidade de deixar de servir ao Senhor. E esse posicionamento só pode ser alcançado quando verdadeiramente se entende o que o Senhor diz em sua Palavra.

 

Primeiro, a igreja de Deus é feita de seres humanos. E seres humanos falham. Em I Timóteo 1:15, Paulo, já convertido e fazendo a obra de Deus diz que “Esta é a Palavra fiel, e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Quando o apóstolo escreveu esta Carta já se encontrava no final de seu ministério. Já havia fundado igrejas, ganhado muitas almas para Jesus e cravado seu nome na história como o maior missionário de todos os tempos. E como ele se qualifica? Como grande homem de Deus? Como um vaso ungido do Senhor? Como um homem cheio Espírito Santo? Não. Ele assina como o “principal dos pecadores”.

 

Os seres humanos são falhos desde o dia em que nascem. Nascemos assim, fomos gerados com essa natureza. E a única coisa que consegue nos transformar é o poder de Deus através da sua Palavra. O que não nos impede de continuar pecando. Porque a nossa carne é corrompida e inclinada para o mal. Em Gênesis 8:21, assim que as águas do dilúvio diminuem, Deus diz “Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice”.

 

Logo, onde houver humanos, ali haverá falhas. E a igreja não está imune a isso. Nenhuma delas. E aqui é que o entendimento da Palavra de Deus faz toda a diferença. Se eu me detiver nas falhas humanas e condicionar a minha adoração a elas eu cometo dois erros fatais:

 

  1. a) Eu deixo de viver em função de Deus e passo a viver em função de outro pecador como eu.
  2. b) E dou ao meu irmão o direito de ele deixar de adorar a Deus por minha causa, já que eu também peco.

 

E assim não existiriam mais igrejas. E Jesus sabia disso. Por isso em Efésios 4:2 ele usa o termo “Suportando-vos uns aos outros”. Suportar é agüentar, aceitar, engolir. É óbvio que onde há mentes diferentes divergências irão surgir em algum momento. Foi assim entre os próprios discípulos de Jesus. O próprio Paulo passou por algo assim. No capítulo 15 de Atos, a Bíblia relata uma discussão entre Paulo e Barnabé, causada pela diferença de opinião entre eles. Um achava que a obra deveria ser feita de um jeito e outro queria de outra forma. No versículo 39 a Bíblia relata que houve contenda entre eles. Outras versões falam em desavença.

 

Você pode imaginar dois dos maiores homens de Deus que já caminharam sobre esta terra discutindo dessa forma? Barnabé foi para o Chipre. Paulo foi para a Síria. Você consegue entender isso? Eu consigo. Somos humanos. E estamos sujeitos a enganos. A briga todinha foi por causa de Marcos. Paulo estava chateado com ele porque ele tinha negligenciado a obra em determinado momento (Atos 15:38), e não estava a fim de papo com de papo com ele. Anos depois, na sua última carta, II Timóteo 4:11, ele diz a seu auxiliar: “Toma Marcos, e traze-o contigo; porque me é muito útil para o ministério”.

 

Segundo, a igreja está sujeito ao joio. No capítulo 13 de Mateus Jesus, o dono da igreja expõe esse risco. Em um momento de distração o inimigo vem e semeia o joio no meio do trigo. Eles são tão parecidos no começo que ninguém percebe que ali tem algo de errado. Só damos conta do problema quando ele já está grande, e aí não temos mais condições, humanamente falando de arrancá-lo. É somente quando frutifica que podemos fazer a diferença entre o joio e o trigo. São seus frutos que os denunciam. O joio pertence à família das gramíneas, assim como o trigo, a cevada, o milho. A diferença dele para as outras é que ele é o único que produz veneno. Por isso Jesus usa a figura do joio na parábola. Ele está ali para envenenar, causar contenda, desconfiança, dúvidas, ciúmes, inveja. E acabam sendo a causa de desunião. Um risco que a igreja sempre corre.

 

Aí eu pergunto: se já sei disso, porque vou me deixar impressionar? Por que vou permitir que um pecador como eu arranhe minha comunhão com Deus? Afinal, quem me trouxe à igreja foi o homem ou o Espírito Santo de Deus? Será que fora daqui vou encontrar algum lugar perfeito? Seja como for, seja qual for a situação, o certo é que eu devo esperar somente em Deus e ficar onde sua Palavra estiver sendo pregada. Isso é benção.

 

  • A Igreja está cheia de hipocrisia. As pessoas são uma coisa pela frente e outra por trás.

 

Primeiro preciso ler o final de Apocalipse 22:15 que fala de um tipo de pessoa: a que ama e comete (pratica) a mentira. Costumo dizer que mais cedo ou mais tarde vamos acabar mentindo. E muitas vezes fazemos isso tentando fazer o bem, como, por exemplo, quando não queremos dar uma notícia muito ruim ou ainda quando não queremos frustrar alguém que amamos. E a questão é: como nos sentimos  com isso? Bem, não é disso que o texto fala. Ele fala de quem faz da mentira uma forma de vida, de quem tem prazer em mentir, em ocultar a verdade por simples divertimento, a tal ponto que em um determinado momento já não há mais como saber se aquela pessoa está falando a verdade ou não. Sua vida, portanto, sem a mentira, não existiria. Todos nós conhecemos alguém assim. Assim como conhecemos pessoas que dependem de outras formas de pecado para sobreviver. Inveja, orgulho, arrogância, vaidade...

 

A personalidade do ser humano está sujeita a variações. O humor das pessoas está sujeito a isso. Com o tempo aprendi que não acordamos todos os dias com vontade de sorrir. Que às vezes as pessoas chegam à igreja sobrecarregadas por aflições que não estavam ali dois dias trás, quando ela falou comigo de forma descontraída. Isso acontece com qualquer um. Inclusive com pastores, tidos por alguns como robôs aos quais é proibido se irritar, se chatear, se entristecer, sem poder, inclusive, demonstrar qualquer um desses sentimentos. As ovelhas esquecem que, quanto mais humano é o pastor, mais facilidade ele terá de entender os humanos que o cercam. Pastores que se acham super-homens não costumam entender as fraquezas de suas ovelhas.

 

Quem reclama da hipocrisia da igreja deve ser alguém que não se zanga nunca, que nunca está de mau-humor, que sempre pode ser encontrada sorridente 24 horas por dia, como se não tivesse problema algum. Você conhece alguém assim? Quando conhecer me apresente, para que eu entregue a igreja em suas mãos. Nem o meu Senhor foi assim. A Bíblia relata momentos de irritação, estresse, tristeza e aflição do Filho de Deus. Moisés passou por isso. Davi, Eliseu, Pedro, enfim. Alguns dos maiores vasos de Deus tinham momentos difíceis. Ao ponto de Tiago dizer que Elias, um dos maiores profetas da história era ‘homem sujeito às mesmas paixões que nós’.

 

A questão crucial aqui não é meu mau-humor, mas sim como me comporto diante do pecado. Como bem diz o Salmo 4:4Irai-vos e não pequeis” ( cf. Efésios 4:26). Se meu irmão, completamente atribulado por questões financeiras, familiares, espirituais, vem à casa de Deus em busca de socorro, e, perturbado passa por mim e nem me nota, não cabe a mim julga-lo, mas respeitá-lo e, como diz a Palavra de Deus, suporta-lo. Porque hoje foi ele. Mas amanhã poderá ser eu. Há momentos em que ninguém conseguirá arrancar de nós um sorriso. E é justamente o não entender isso que faz surgir os hipócritas nas igrejas. As pessoas são treinadas para fingir. Para não ser quem são. E por que agem assim? Para não desagradar aos homens. Começam a tratar bem os homens para que estes, por outro lado, finjam não ver seu pecado. É uma troca. Falsidade gera falsidade. Com o tempo passam a fingir até para Deus. Mas aí já é outra história. É impossível fingir para Deus.

 

Daí o texto lido em Apocalipse 22:15. O perigo não é minha cara feia. O perigo é quando começo a fazer do pecado uma prática e tento esconde-lo atrás de um rosto sempre sorridente. Essa sim, é a verdadeira hipocrisia. São os abraços, os elogios, os tapinhas nas costas, a alegria por lhe ver, a demonstração de afeto e, por trás, uma vida corrompida pela prática do pecado. Não é à toa que Cristo, ao falar da hipocrisia dos fariseus, cita os famosos ‘sepulcros caiados’ (Mateus 26:27), belos por fora, mas cheios de sujeira por dentro. Isso é hipocrisia, não a falsa acusação que o mundo lança sobre a igreja e que, infelizmente muitos crentes acabam adotando para si. E que no fundo também não deixa de ser mais uma desculpa para encobrir seus próprios pecados.

 

Não deixe o mundo te dizer o que uma igreja é ou deixa de ser. Que autoridade tem um ímpio para criticar os eleitos de Deus? Por que eu vou dar ouvidos a alguém que se recusou a dar ouvidos a Cristo? Se uma pessoa rejeita Jesus, diz ‘não’ ao Filho de Deus, que morreu por mim, como eu posso levar a sério sua opinião sobre o Corpo do meu Senhor, que é sua igreja. Não deixe o mundo contaminar sua mente com essas idéias diabólicas sobre a Casa de Deus. Não existe nada mais importante para Jesus nessa que sua igreja. Ele a chama de ‘noiva’. Ele nos chama de suas ovelhas, seu povo, seus santos. Somos cheios de falhas, de fraquezas, de paixões, sim. Mas somos dele. Seu sangue nos lavou, nos purificou. Por sua causa nossos nomes estão escritos no livro da vida. Nada que o mundo disser vai mudar isso. Ou tirar nossa parte da árvore da vida. Porque Jesus já fez sua escolha. E ela não pode ser alterada.

 

 

Neto Curvina, 26 de novembro e 2012.