Só querer não resolve 16/01/2014
O mundo, desde muito mergulhado em discursos humanistas, tenta transformar o homem em uma espécie de deus. Um ser capaz de realizar qualquer coisa que se propõe e para quem nada é impossível, sendo que para que isto aconteça, basta querer muito. Filósofos, pensadores, religiosos e místicos de vários ramos esotéricos ensinam essa farsa que, se analisarmos cuidadosamente, está na raiz de uma doutrina conhecida como “confissão positiva”, que, grosso modo, afirma que podemos determinar aquilo que queremos que aconteça independente de qualquer outra condição ou contrapartida.
Uma observação bem superficial no dia-a-dia cristão e podemos comprovar que tudo não passa de falácia humanista travestida de discurso doutrinário, pessimamente embasado por versículos pinçados fora do contexto em que foram escritos. O velho erro de eliminar o contexto para criar um pretexto que termina em heresia. Afinal, quantas pessoas todos os dias determinam (com fé, diga-se de passagem) suas vitórias durante os cultos e quando saem de lá percebem que suas vidas estão exatamente do mesmo jeito que entraram e assim permanecem por um bom tempo? Logo, só querer não resolve. Mas para que possamos ver a coisa de uma perspectiva bíblica, alguns pontos devem ficar bem claros para todos nós:
Deus é um Deus de condições. É que chamamos de Deus do ‘se’. São inúmeras passagens onde o Senhor começa trazendo uma condição para que algo aconteça. Só para citar algumas bem conhecidas, temos Isaías 1:16-19 e II Crônicas 7:14.
Deus não muda para agradar quem quer que seja. O Senhor não vai se contradizer nem muito menos fazer concessões em sua Palavra. Ele não abre exceções, não dá um jeitinho brasileiro, não improvisa. Somos nós que temos que nos adaptar a ele.
Suas regras são extremamente claras. Deuteronômio 30:11 já diz isso. O que ele nos ordena diretamente, e que será responsável pela nossa vitória está bem definido nas Escrituras. Nem encoberto nem longe. Não há desculpas para não obedecer.
Colocadas essas questões, podemos apontar alguns erros doutrinários em práticas cristãs que são difundidas e vividas atualmente por um número cada vez maior de lideranças, ao mesmo tempo em que podemos mostrar que, biblicamente, estão equivocadas. E que só querer não resolve.
- Querer a benção sem querer o abençoador. O erro primário cometido pelo jovem rico e por milhares de pessoas todos os dias. Ele buscava vida eterna mas não queria entregar sua vida ao único que poderia concedê-la. Hoje vemos muitos pastores prometendo milagres e prodígios, mas quase nenhum deles ressalta que o mais importante é receber a Cristo como único e suficiente Salvador. Pregam o milagre sem compromisso, vendido, negociado, como uma mercadoria. Em Lucas 10:17-20 Jesus mostra que a salvação é mais importante que qualquer sinal sobrenatural, justamente porque se trata do maior milagre de todos. Hoje as pessoas vão às igrejas para receberem sua bênção sem que sejam ensinadas que receber a Cristo é mais importante.
- Querer a vitória sem obedecer quem dá a vitória. Já vimos em Isaías 1:16-19 e II Crônicas 7:14 que é impossível passar por cima das condições divinas. Mas vamos acrescentar a estas passagens Deuteronômio 28:1. O Senhor sempre teve sérios problemas com algumas classes especiais de pecadores. Idólatras (inclui aqui os avarentos) e rebeldes estão em lugar de destaque. Conceder vitória a um servo desobediente está completamente fora dos planos de Deus. Sua Palavra é bem nítida quanto a isso.
- Querer o milagre sem crer em quem faz o milagre. Crer em Deus para muitos não passa de uma superstição. Uma coisa automática que foi passando de geração em geração, com uma série de rituais que a maioria sequer sabe o que significa. Isso não produz fé verdadeira, que á a alicerçada na Palavra, mas sim uma fé frágil, facilmente distorcida e corrompida. Crer em Deus vai além de saber que ele existe. É crer em sua palavra, em seus mandamentos, seus preceitos. É crer em sua presença. Deus não costuma operar no campo da dúvida (Tiago 1:6-7) e deixou isso bem claro em Mateus 13:55-58.
- Querer o poder – unção – de Deus sem se adequar para isso. Em Êxodo 19 fica claro que um Deus santo quer se relacionar com um povo santo e, além disso, estabelece esse termômetro – santidade – como canal entre nós e ele (Josué 3:5 e Hebreus 12:14). O verdadeiro poder de Deus só flui, incondicionalmente, por vasos santos, daí a preocupação de Isaías (6:5) que de imediato foi resolvida por Deus, que mostra que a santificação pode vir de um viver santo, que é o viver pela Palavra de Deus (João 15:3 e 17:17) ou pelo agir de Deus direto em nossas vidas, como aconteceu com Isaías e muitos profetas.
Neto Curvina